Sabe Devaneio?

Sabe aquele dia de chuva onde você para na janela para ver os pingos de chuva a correr lentamente pela vidraça e o pensamento vai longe?

Ele estava sentado sozinho no café na cobertura de um shopping. Nem pouca nem muita gente, numa segunda-feira à tarde. Cabelos longos, presos na nuca. A idade? Difícil dizer: entre 49 e 65. O espírito parecia muito jovem, as atitudes; mas a canície o revelava. Acabara de tomar um café. Aquele copinho com água para depois do café, costume na região sul, o denunciava. Um sorriso, muita simpatia, percebida quando falou com a garçonete; pareciam velhos amigos.

E ele estava ali. Intensamente presente. Os olhos devaneavam e percorriam a vidraça afora naquela tarde linda, quente e ventosa. Mas ele estava presente no agora! O sorriso o demonstrava. Ele curtia ser feliz; absolutamente só; e feliz. Seus olhos transpareciam vida. Se ele não soubesse o que é Meditação, ele a vivia; integralmente. Nada de muitos pensamentos, grandes filosofias ou insights; não. Devaneio, sim. Curtindo estar ali. Não havia solidão, embora ele estivesse sozinho; não havia tristeza, nenhuma. Feliz; vivendo aquele momento presente.

Meditação é entrar em contato com a sua autêntica natureza, sua essência, seu verdadeiro ser. Isto requer alguma coragem, pois muitas vezes pode se precisar entrar em contato com partes nossas que não estão muito iluminadas, ou recordar fatos que não se gostaria de lembrar. Assim, o auto-perdão vai ter que entrar em ação, sem julgamentos, simplesmente aceitando quem somos. Até aqui já percorremos um longo caminho e isto não pode ser jogado fora. Foi a “minha” experiência de vida. Tudo que foi vivido tem muito valor, serviu para alguma coisa. Mesmo os erros. Quem nunca errou? Pode ser que eu me pergunte por que isso aconteceu na minha vida, mas talvez a pergunta deveria ser: pra quê?