O colorido da vida

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Estava hoje tocando piano, na verdade estudando, e era um trecho muito difícil. Tropeçava os dedos, gaguejava e tinha que retomar o início várias vezes. Quem nunca, não é?

Esforcei-me ao máximo e lentamente foi se arrumando a melodia e o ritmo, ora um, ora outro, até sair algo identificável como música, compassos ritmados, força e suavidade, cada um no seu lugar. As notas e as pausas, seus correspondentes silêncios, fazendo parte do conjunto harmônico. Forcei uma interpretação pessoal para ver se melhorava, piorou; o ego me traiu. Introduzi um colorido que só eu sei fazer no dedilhado; agora, sim; melhorou. O ego sempre nos trai; é a função dele, o grande professor.

Fui tentando novas formas e inventando outros jeitos de tocar a música e vi que ficou bom. Melhorei a auto-estima e, confiante, parece que tudo fluiu mais, com mais facilidade. Acreditei que eu até poderia criar, mesmo em cima da melodia já conhecida e clássica que eu tateava. Poderia ainda ficar melhor. E foi verdade. O meu toque pessoal tornou aquela música melhor, pelo menos para mim.

Por que todos têm que tocar música igualzinho uns aos outros?

Pensando bem, o que eu gosto da música é imaginar que algum dia eu poderia tocar como um connoisseur. Não que eu tenha que tocar bem todos os dias; o prazer é a superação de si mesmo nos compassos e nas notas, assimilando as pausas, acrescentando a interpretação e a poesia nas entrelinhas.

Pensei comigo mesma que se fosse muito fácil, a música não seria tão bonita. A dificuldade a torna mais bela.

Agora leia tudo de novo como se eu estivesse falando da vida e não da música. Pode ser que a vida seja assim também: se não fosse tão difícil não seria tão linda. Acho a vida maravilhosa! Nós sabemos que a vida é cheia de surpresas, boas ou não; todo novo dia temos algo novo para aprender e isso é que faz o colorido da vida.